1988 foi um ano estranho para o mundo, o comunismo agonizava, Ronald Reagan sai do governo americano dando lugar a George Bush e assim a América se tornava ainda mais conservadora, no cinema heróis como John McClane e suas doses cavalares de testosterona tomava conta enquanto na música o hair metal se despedia de forma deprimente com Cinderella, Warrant entre outros dominando a cena.
Com todo esse panorama é de estranhar a atitude do U2 na época ao lançar um disco voltado para uma turnê pelos EUA com corais gospel e muita idolatria à música negra antiga, fora o filme que documentou esse passeio todo, por isso vamos analisar com calma os fatores.
Rattle and hum é uma somátoria de provocações, Helter Skelter e seu discurso de abertura "This is a song Charles Manson stole from The Beatles. We're stealing it back" é o ego do Bono dizendo a todas as bandas daquela geração, nós podemos chegar perto dos Beatles, vocês não!
Idolatria à música negra através da versão Gospel de I Still Haven´t found what i´m looking for e a pequena gravação de artista de rua em Freedom for my people pulam durante o disco, mas quase como se expressassem um grito da banda de que a América deveria valorizar suas raizes negras.
A arrogância dos quatro irlandeses é evidente em quase todo o disco, God Part II funciona como uma continuação de God de John Lennon, sim, Bono e Cia achavam que poderiam fazer isso numa boa e sair totalmente ilesos.
A participação de Bob Dylan em Love rescue me parece um atestado de que eles poderiam tocar com qualquer um, indo de BB. King em When Love comes to town até o trovador maior da América.
Já o filme proporciona cenas que funcionam como contraponto à arrogância sonora do cd, por exemplo, as lágrimas sinceras de Larry Mullen Jr. ao conhecer Graceland ou o discurso de Bono em Bullet in the Blue Sky, fora o momento homenagem a Martin Luther King em Pride.
Durante o filme vemos uma banda mais humana e verdadeira, apesar de toda a pregação e necessidade de adoração tão inerente ao Bono, mas que nesse material funcionam como forma de desconstrução desse personagem criado a base de horas e horas de estudo sobre comportamente no rock n roll, ai vale lembrar que quatro anos depois disso o messias dos anos 80 seria descontruido pelo The Fly e a arrogância dos anos 90.
A somatória filme e disco mostra um U2 gritando para o mundo que queria ser a maior e melhor banda do mundo, sem dó nem vergonha de se assumir assim e talvez por isso, Rattle and Hum seja um disco essencial para a construção de um verdadeiro rockstar e suas idiocracias. Com pouco mais de 1 hora o quarteto irlandês ensinou ao mundo como se conquista América e ainda esfregou nos ouvidos uma frase que fica para quem sonha em ter a maior banda do mundo “Outside it´s America”, bom, já entendemos a lição Bono e vimos que você conquistou os Ianques.
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