Por Gabriela Cardoso
O termômetro de um show pode ser medido de várias maneiras. Uma delas é quando a banda sai do palco, mas o público continua lá, sem se mover. Mesmo com a despedida calorosa dos Foo Fighters, os fãs ainda esperavam alguma gracinha de um dos caras mais carismáticos que o rock já viu. E ouviu. E aplaude com entusiasmo: Dave Grohl.
Por esse motivo, escolhi o fim do show para começar esse texto. Corpos exaustos, rostos felizes e muitos sotaques se misturavam numa multidão de 75 mil pessoas. E parecia bem mais gente.
No caminho da saída, pude ouvir vários trechos de histórias. Parecidas ou diferentes, todas elas contavam o mesmo final: a banda tinha crescido junto com seus fãs. Pode ser clichê, mas com o Foo Fighters é assim mesmo. A cada CD lançado, a banda conquistava ouvidos de novas gerações e mantinha a simpatia de quem já tinha deixado a adolescência.
No meio da euforia, uma garota histérica comemorava – “O Dave foi pra bateria, que tudo!” – quando um dos colegas dispara – “Ah, ele fez isso na Argentina também, você não viu?”. Como se fosse uma mãe que acabara de receber o filho no colo, ela encerra a questão – “Eu não quis saber nada do setlist, queria surpresa!”.
Pensando como todo fã exagerado, a ansiedade que domina a sua mente até a chegada do show parece mesmo com uma gestação. O desespero pra conseguir as entradas é substituído pela satisfação de ter o passaporte da alegria nas mãos. E começa a contagem regressiva.
Quase cinco meses olhando para aquele ingresso e imaginando como vai ser a sensação do grande dia, 7 de abril. Até que ele chega e você nem acredita, hoje é dia de Foo Fighters mesmo? Tudo bem que, toda essa expectativa, não cabe em um dia de festival. Nem se fossem dois!
Mas, o sábado do Lollapalooza estava bem a cara da banda e, principalmente, a cara de Dave, que trouxe alguns “convidados” junto da bagagem, como a fenomenal Joan Jett e os parceiros do Cage the Elephant.
A tarde caía enquanto todos ali enfrentavam filas cada vez maiores. O espaço foi ficando pequeno e o coração apertado, quase tão apertado quanto estava aquele gramado, espremido de gente tentando chegar mais perto do palco.
Nessa altura, eu já nem lutava mais para conseguir um bom lugar. Eu só tentava poupar meu fôlego porque sabia que, quando desse 20h30, ninguém ia me segurar.
Pouco antes de a banda subir ao palco, eu não enxergava nem o telão direito. Engoli o choro e procurei um jeito de não surtar. Já não ouvia mais a gritaria da pista, quando começou All my life. O refrão explodiu junto com uma mistura de raiva e emoção.
Aí foi só apertar o foda-se para viver aquele momento como ele era. Em My Hero, eu nem ligava mais pro fato de que não conseguia ver nem um pontinho parecido com o Dave Grohl no palco distante. Ao meu lado, vários guerreiros faziam a vez do vocalista, cantando junto comigo cada estrofe da música. Dave não foi o único que terminou o show quase sem voz.
Além de destilar os hits (que fazem todo mundo repassar as lembranças que só a música consegue despertar) e mostrar a força do último álbum, o Foo Fighters mandou referências, ou reverências se preferir, à Led Zeppelin, Pink Floyd e Queens Of The Stone Age. Dave Grohl e Cia ainda dividiram o palco com uma das musas do girlpower, Joan Jett, em Bad Reputation e I Love Rock ‘n’ Roll.
E ainda fecharam com uma de suas melhores músicas, elogiada até mesmo pelo grande Bob Dylan, Everlong, que foi cantada a plenos pulmões. Não poderia ser diferente, já que descreve o significado do show inteiro, logo no começo – “Hello, I´ve waited here for you, everlong”.
Tenso e intenso, duas horas e meia não são suficientes para quem espera anos pela oportunidade de ver um show ao vivo de uma banda como o Foo Fighters.
E é por isso que, quando Dave Grohl anunciou que não esperaria mais tanto tempo para voltar ao país, o pensamento coletivo foi respondido por um dos anônimos ao meu lado: cumpra a promessa Dave!
Agora, recomeça a espera por uma turnê do tamanho que a banda e o Brasil merecem.
1 comentários:
Melhor texto que lí sobre o show.
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