Controvérsias à parte, é inegável o fato de que o Desafio do Balde de Gelo arrecadou mais de 100 milhões de dólares para a ALS, uma entidade que trabalha em prol de pesquisas sobre a esclerose lateral amiotrófica. A brincadeira, que rapidamente se alastrou por meios das redes sociais, fez com que mais de 2.4 milhões de vídeos fossem publicados no Youtube, mais de 2.5 milhões de citações a respeito fossem feitas no twitter, e mais de 15 milhões de interações relacionadas ao Ice Bucket Challenge fossem realizadas no Facebook (entre postagens, curtidas e comentários). E assim, devido aos novos métodos de interação hoje incorporados à sociedade graças às redes sociais (e claro, a um verão americano bastante acentuado!), o Desafio do Balde de Gelo se tornou a maior campanha que já se deu unicamente através da internet.
Entretanto, como já é característica dos virais, o Ice Bucket Challenge se deu sem qualquer estrutura ou planejamento que o validasse frente a um objetivo que inicialmente logo de início deveria ser pretendido, e com isso em poucas semanas a mensagem criada se perdeu, banhos sem qualquer objetivo válido foram tomados e com isso o Desafio do Balde de Gelo logo foi esquecido. E em meio a tantos baldes, vídeos e celebridades, o paciente que sofre da Esclerose Lateral Amiotrófica se quer teve seu direito de voz frente aos que diziam que lutavam pela causa.
E como uma pancada no peito que a princípio parece não doer, mas que gradativamente se percebe a gravidade do que ocorreu, eis que surge o tímido You’re Not You.
A trama bastante simples é apresentada logo nos primeiros minutos. Não há qualquer intenção em superestimar o roteiro ou então preparar o espectador para algo grandioso, pelo contrário, o desenrolar inicial da narrativa é completamente morno e por vezes parece dizer que esse será o ritmo a ser seguido pela história.
Apresenta-se então Kate, uma mulher em torno de seus 30 anos que é diagnosticada com esclorese lateral amiotrófica, cujos sintomas, como toda doença degenerativa, se agravam a cada dia mais. Para ajudá-la então a conviver com a doença, Kate contrata Bec uma jovem desastrada e sem experiência, mas na qual Kate encontra uma ligação e a considera como a melhor opção a se ter por perto.
Roteiro simples e uma história que poderia soar piegas e bastante semelhante ao queridinho francês “Inquietos”, contudo se isso não ocorre, e ao fim de You’re Not o que fica é toda a reflexão promovida pelo que se viu na tela, tal característica se deve à atuação mais uma vez magistral de Hilary Swank, que gradativamente agrega à narrativa, a princípio morna, o tom que se faz necessário para que seja realizado da melhor forma o desfecho proposto.
Sem exageros, e por muitas vezes apenas através de características inefáveis, Hilary Swank não apenas eleva a qualidade de Your’re Not You, como também a qualidade de atuação daqueles à sua volta, inclusive de Emmy Rossum, no papel de Bec, que assim como sua personagem, parece ao longo do filme desenvolver a maturidade necessária para se encaixar ao aspecto geral que aos poucos vai se alterando e também tornando-se maturo. E o resultado de todo o conjunto é incrivelmente memorável. Sobretudo a aula de atuação de Hilary Swank, que infelizmente parece que não será lembrada na próxima temporada de premiações.
Um drama que se dá sem ser melodramático, equilibrando piadas com diálogos bastante pesados, sendo por vezes neutro e outras incrivelmente aterrador, You’re Are Not You não faz da Esclerose Lateral Amiotrófica um personagem, ou utiliza de todos os sintomas da doença como recurso para se extrair lágrimas e ser superestimado, mas faz da atuação de sua protagonista sua principal ferramenta para se chegar aonde deseja.
E sem qualquer banho de gelo, promove não somente a reflexão de uma doença, mas do valor que tem uma vida.
Escrito pelo sempre polêmico Victor Bertão
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