Hoje gostaria de dividir algo com os senhores leitores. Gostaria de dividir o tamanho de minha surpresa para com alguns autores e sua incrível capacidade de, após ganharem destaque no cenário mundial com filmes que rompem o senso comum, sendo considerados alguns dos diretores mais excêntricos e cheios de personalidade de sua época, abandonarem esse período de glória e serem arremessados em um precipício de mesmice, tédio e esquecimento.
Não entendeu? Te explico.
Era uma vez um garoto nascido em 1958. Já desde criança tinha certa dificuldade em lidar com situações sociais, preferindo se isolar dos outros garotos, passando o seu tempo entre livros de
Edgar Allan Poe e filmes de terror B, ambos inspirações futuras para seus filmes.
O nome do garoto? Ah, claro, já ia me esquecendo: Timothy Walter Burton, mais conhecido como
Tim Burton.
Tendo estudo animação nos Estudios Disney, Burton iniciou a carreira com alguns curta metragens e trabalhos para TV, até 1982 quando roteirizou e dirigiu a sua primeira obra de maior visualização:
Vincent, vencedor do Audience Award do Ottawa International Animation Festival, em 1984.
Vincent marcou o início de sua filmografia pois trazia toda aquela referencia adquirida em sua infância e adolescência. Uma animação em preto e branco, com uma estética meio expressionista e impregnada de marcas da cultura gótica dos anos 80, embalado por uma atmosfera melâncolica, narrada em rima pelo grande
Vincent Price e trazendo até mesmo um dos versos do poema The Raven de Edgar Alan Poe (sim, aquele que todos conhecemos, aquele do 'Never More').
A partir do sucesso de Vincent, 4 anos após o prêmio recebido, Burton dá início a uma sequencia quase perfeita de filmes consagrados, sendo alguns deles:
Beattlejuice - Os fantasmas se divertem,
Batman,
Batman: O retorno,
O estranho mundo de Jack,
Ed Wood e o aclamado
Edward Mãos de Tesoura, filme que selou a parceria
Johnny Depp - Burton, que se arrasta até hoje.
Todos esses filmes serviram para que o grande público, assim como os profissionais da área de cinema confirmassem o impacto e originalidade da obra de Burton. A atmosfera mais sombria, os cenários pouco ortodoxos cheios de sombras e irregularidades, a temática sombria e ao mesmo tempo cômica fez com que assistir um filme de Tim Burton se tornasse uma experência à parte, criando uma horda de fãs convictos que esperavam sempre essa mesma experiência a cada lançamento.
Porém, só existe uma coisa tão avassaladora quanto a incapacidade de se fazer original para um diretor de cinema, e essa coisa é não se reciclar, não se reinventar, procurando sempre manter os mesmo aspectos em seus filmes.
Deixando de lado grandes fiascos de sua carreira (como o insuportável
Planeta dos Macacos), Burton passou a dirigir filmes suspeitos, ainda bons, mas que começavam a se tornar repetitivos, tanto pelo elenco escolhido quanto pela temática. Isso acontece em filmes como
A lenda do cavaleiro sem cabeça,
A fantástica fábrica de chocolate,
Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da rua Fleet,
Alice no país das maravilhas,
Sombras da noite (que modéstia a parte é de doer) e
Frankenweenie (sua tentativa desesperada de reviver os velhos tempos de Vincent).
Todos os filmes suprecitadas partindo do mesmo pressuposto Burtiano, estética semelhante, história semelhante, elenco semelhante. filmes como A fantástica fabrica de chocolate e Alice no país das maravilhas que, mesmo recebendo prêmios (Empire Award de melhor ator para o primeiro, e oscar de melhor figurino para o segundo), são filmes fracos, refilmagens que nunca precisariam terem acontecido pela qualidado dos originais, muito melhores que as versões de Burton.
Sei que mexer com a obra de Tim Burton é como cutucar vespeiro, os fãs do diretor são muito fiéis a obra, mas gostaria que as pessoas não me entendessem mal (ou ao menos não desejassem TANTO a minha morte), mas sempre fui um admirador da obra dele, o que contribuiu para tecer um pensamento critico quanto ao que vem acontecendo em seus últimos filmes.
Grande parte dessa queda tem a ver, acredito, com a passagem do tempo. Os ícones dos anos 80, a música, a estética gótica, a melancolia à la Poe não é a mesma melancolia da nova década. A substância da obra se enfraqueceu, porém ao invés de se utilizar da sua originalidade para construir algo novo e tão excêntrico quanto tinha feito, Burton peca em tentar emular os próprios filmes, o que falha miseravelmente e tornando o que antes tinha um Q de estranheza sedutora em um clichê esperado pelo autor.
Concordemos ou não, como dito acima, um diretor precisa se reinventar, ousar, sair de sua zona de conforto, e é isso que esperamos de Tim Burton para o futuro. Gostaria de sentar em uma poltrona de cinema e ser surpreendido, sem ter a sensação de estar assistindo uma versão 2.0 de algum filme ja feito pelo mesmo diretor. E quem sabe essa reinvenção do Tim Burton não acabe sendo boa e até mesmo influenciando alguns atores próximos dele que pelo mesmo motivo começam a ficar maçantes, hein? Mas essa discussão fica para a próxima.
Escrito por Luiz Fernando Pierotti