Ser designado para analisar o Teatro Mágico é uma tarefa árdua e muito complexa, talvez pela música inclassificável (no itunes, por exemplo, consta como “LATIN MUSIC”), ou pela poesia, que se não for vivida não tem sentido, até pela adoração desmedida dos fãs, tudo ali impressiona e confunde.
Em entrevista com Fernando Anitelli (o dono do circo, proprietário do teatro e, porque não, o guia daquelas almas sensíveis que buscam ou buscavam alento em canções puras), o questionei sobre motivo da base de fãs do Teatro Mágico ter aumentado, o mesmo disse “deve ser porque o Teatro Mágico não surgiu do nada, não entramos em uma casa e ficamos lá alguns meses e saímos artistas, não, fomos batalhando, indo de porta em porta, em um trabalho de formiguinha. Conversando com o público e explicando os ‘porquês’ e ‘pra quês’, isso acabou se revelando e refletindo na sonoridade, nas músicas e isso amadureceu a banda, amadureceu o público e continuamos amadurecendo juntos e eles sabem que queremos amadurecer sempre”.
Mas será que esse público amadureceu junto à banda mesmo, Fernando? Quando um artista diz que amadureceu isso raramente tem ligação direta com o seu público, poucos conseguem esse amadurecimento conjunto.
Contudo, o Palhaço tem razão sim, em partes. Ao assistir o show do Teatro Mágico é visível que o público não é somente feito para comprar, baixar ou cantarolar as músicas, os seus fãs são parte vital do espetáculo, as vozes e adoração ali empregadas são um “instrumento” a mais ou até, porque não, uma ação circense de amor e devoção.
O show da banda em Sorocaba/SP, de certa forma, me jogou para dentro do circo, mesmo com o som péssimo do local, infraestrutura de mediana para baixo, banda e fãs numa sinergia que já chegou ao ápice no começo do show, com uma poesia sendo lida e dividida entre homens e mulheres do recinto, lógico que o Fernando foi às lágrimas sinceras de agradecimento por tamanha atitude de amor.
Fernando ainda me confidenciou um encontro dele com Milton Nascimento, onde o pai do clube da esquina teria ouvido uma versão feita pela banda para uma de suas canções, alguns artistas tratariam isso com ato de arrogância ou de que chegaram até o topo musical, mas não o Palhaço, ele vê aquilo com naturalidade absurda, parecia que estava me contando uma história do dia que tocou com um músico de boteco.
O mesmo músico que troca figurinhas com Milton Nascimento é um dos ativos políticos da música nacional. Durante a entrevista, ao indagá-lo sobre a política e o embate que alguns poucos resolveram assumir, o mesmo me disse: “o embate político é necessário, estive na CPI do ECAD recentemente discutindo a função do mesmo e vejo que arte é política, não tem como desconstruir isso aí. Fazer arte é fazer política, não precisa ser uma coisa chata, mas tem que ser algo que provoque, questione, pode até ser feito com alegria e brasilidade, mas que seja feito nesse âmbito”.
Ao término do show era visível nos rostos uma sensação de dever cumprido, como se os presentes tivessem subido ao palco, tocado, cantado ou feito alguma ação circense e isso impressiona!
Para muitos de nós, o Teatro Mágico pode ser mais uma banda do cenário nacional, mas para Fernando Anitelli e seus seguidores aquilo é uma parte fundamental de suas vidas, é a continuação da alegria que eles guardaram durante meses e esperam o show para explodir em um êxtase conjunto, transformado em uma catarse de felicidade que se traduz em canções!
É Fernando, melhor o senhor aumentar o tamanho da tenda, pois, além de suas músicas, existem alguns milhares de artistas chamados fãs querendo participar desse carnaval circense.
Agradecimento a fotografa Thais Medeiros
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